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1º Censo AgTech Startups Brasil: Confira resultados e análises de mapeamento inédito setor

O 1o Censo AgTech Startups Brasil, resultado de uma  parceria entre a Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (ESALQ/USP) e o AgTech Garage, fez um mapeamento inédito do setor tecnologia para o agronegócio. O levantamento foi feito por meio de um questionário online, que ficou disponível a startups AgTech do Brasil inteiro durante quatro meses – 76 empresas responderam ao formulário e forneceram informações diversas, comoa´rea de atuação, tempo de mercado, faturamento e fontes de financiamento.

O 1o Censo AgTech Startups Brasil foi apresentado ao mercado durante o 2º AgTech Day, encontro realizado em Piracicaba na quinta-feira (1/12/2016) pela EsalqTec, Canatec Coworking e Usina Monte Alegre. A Startagro foi uma das parceiras institucionais do evento.

Clique aqui para ver o infográfico completo sobre o levantamento.

O trabalho colheu informações valiosas sobre o nascente mercado brasileiro de startups de tecnologia para o agronegócio. A StartAgro publica agora em primeira mão uma análise dos resultados feita pelo Professor Dr. Mateus Mondin, do Departamento de Genética da ESALQ/USP, José Augusto Tomé, Gestor do Ecossistema de Inovação e Empreendedorismo do AgTech Garage, e Hermes Nonino, Membro do Conselho Consultivo do AgTech Garage.

No artigo abaixo, os autores apresentam vários dados e analisam o perfil, desafios e necessidades do ecossistema AgTech.

Entre os problemas identificados estão a falta de investimentos em empresas no estágio inicial e o baixo número de investidores privados, como fundos e aceleradoras.

 Confira:

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 RESUMO EXECUTIVO DO 1º CENSO AGTECH STARTUPS BRASIL 

 Por Mateus Mondin, José Augusto Tomé e Hermes Nonino *

O 1o Censo AgTech Startups Brasil foi realizado em uma parceria entre a Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” – ESALQ/USP e o AgTech Garage, sendo de responsabilidade do Prof. Dr. Mateus Mondin, do Departamento de Genética da ESALQ/USP, e de José Augusto Tomé, Gestor do Ecossistema de Inovação e Empreendedorismo do AgTech Garage, e Hermes Nonino, Membro do Conselho Consultivo do AgTech Garage.

A metodologia utilizada não seguiu nenhum padrão científico, com o trabalho produzido por meio de um formulário on-line que ficou disponível na plataforma Google. A coleta de dados foi voluntária e ocorreu por um período de quatro meses. Nesse período, 76 startups preencheram o formulário. O questionário continha perguntas de múltipla escolha e também questões para o empreendedor relatar de forma discursiva sobre o assunto abordado.

Não se sabe o número exato de startups de AgTech existentes no Brasil, sendo os números muito discrepantes. Independentemente de quantas realmente sejam, o número de empresas que responderam somam um valor que permite traçar um quadro bastante realista sobre as empresas nascentes nesse setor.

Distribuição pelo Brasil

Foram computadas 76 respostas no total, contemplando empresas de todo o Brasil. O Estado de São Paulo possui 50% das startups de AgTech, sendo que dessas a maioria se encontra na cidade de Piracicaba. Na cidade, encontram-se 19% de todas as startups de AgTech do Brasil, sendo o maior cluster do país no setor.

Destaca-se também Minas Gerais, com 18% das startups. Deve-se lembrar que no estado há duas grandes escolas de agricultura, a UFLA-Lavras e a UFV-Viçosa. Na sequência vêm os estados do sul do Brasil, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, somando-se 24% do total. Os demais estados brasileiros somam apenas 8%, demonstrando que o eixo de inovação em AgTech está no sul e sudeste.

Salto em três anos

As empresas de AgTech tiveram um grande salto em número nos últimos três anos. Para ter uma ideia da proporção, até 2011 existiam apenas nove startups no Brasil, segundo o censo, todas as demais surgiram de 2013 em diante. Uma curiosidade é que para essas nove startups mais antigas terem respondido ao censo, elas precisavam existir, o que demonstra que elas sobreviveram e continuam em operação no mercado.

Não é possível ter uma ideia da taxa de mortalidade das startups de AgTech no Brasil por enquanto. O número médio de funcionários trabalhando nessas empresas varia de 3 a 7, porém há empresas de apenas duas pessoas e outras com 80 funcionários. As equipes se mostraram multidisciplinares, com pelo menos um membro da equipe com experiência em ciências agrárias, porém 76% das startups possuem pelo menos uma pessoa ligada à administração de empresas e 66% possuem pelo menos um profissional com experiência em programação.

Além disso, 54% dos empreendedores têm algum tipo de pós-graduação. A faixa etária de 31 a 40 anos compreende 43% dos empreendedores e a de 26 a 30 anos corresponde a 26%. O grupo com mais de 41 anos compreende 16% e de 21 a 25 anos, 12% dos empreendedores.

Perfil dos empreendedores e segmentos

Curiosamente as pessoas que estão pensando na inovação tecnológica para o agronegócio são jovens em sua grande maioria e adultos em uma fase em que a carreira em um sistema convencional começa se estabilizar e a procura por novos desafios se torna mais contundente. Quase 95% dos que responderam à pesquisa dizem que seus produtos podem ser consumidos em outros países.

Essas ideias nascem na academia em 36% dos casos, mas outros 37% apontam que a intenção de criar uma AgTech nasceu no seu local original de trabalho, onde alguns dos fundadores trabalhavam. O projeto nasceu por uma demanda não atendida como consumidor em 26% dos casos. As principais áreas de atuação são Tecnologias de Suporte a Decisões (55%) e softwares para gestão (50%). Cada startups poderia escolher mais de uma área de atuação e por isso as porcentagens podem ultrapassar os 100%.

Tipos de negócios

O segundo bloco de atuação é marcado pela Agricultura de Precisão e Equipamentos Inteligentes (IoT) e Hardware, ambos com 25%. Um terceiro bloco destaca as consultorias, proteção de cultivos, comercialização de insumos e produtos agrícolas, segurança alimentar, agricultura indoor, irrigação e tecnologias ligadas ao consumo de água. Porém, outras áreas foram citadas com destaque, especialmente drones e robótica, e-commerce, saúde e nutrição animal, biomateriais e bioquímicos.

Entretanto, aparentemente setores importantes do agronegócio, como avicultura, suínos e fruticultura, entre outros, não aparecem no radar da inovação, enquanto o segmento de flores e paisagismo começa a ganhar repercursão, ainda que de modo tímido. Setores que exigem investimentos de longo prazo e que causam grande impactos na produção agrícola não foram contemplados até o momento – é o caso  de biotecnologia e genética.

Poucos investidores

Há várias razões para isso, mas ao que tudo indica é que os investidores ainda estão com o mindset errado. Muitos ainda pensam em inovação tecnológica e empreendedorismo em AgTech como TI, e isso traz sérias consequências para o setor, havendo apenas investimentos em empreendimentos com perfil em informática e soluções de internet.

Os empreendedores apontaram várias dificuldades. A principal delas é a falta de investimentos nas fases iniciais de seus projetos. O censo registra 44% nunca receberam nenhum tipo de investimento, o que retarda muito o lançamento de produtos competitivos no mercado; 25% conseguiram suportes da própria família e amigos e 24% receberam algum investimento de fundo perdido.

No segmento de investimentos a fundo perdido, é necessário destacar o papel da FAPESP com seu programa PIPE. Os capitais de risco [séries A, B e C], aceleradoras e anjos são insignificantes para o empreendedorismo e inovação tecnológica em AgTech. Isso demonstra que há muito o que ser feito no segmento AgTech. Há um sério desconhecimento dos investidores com relação ao setor que representa sem dúvida alguma algo como 50% do PIB brasileiro.

Não é à toa que 80% dos empreendedores apontaram a captação de recursos como a maior dificuldade para seus negócios. Isso se reflete em outros parâmetros, como, por exemplo, a taxa de crescimento no último ano não pode ser medida em 61% das startups. A alegação é de que o produto ainda se encontra em fase de testes e a demanda não foi determinada. Com isso, 56% das startups declararam que ainda não faturam.

Protagonismo da FAPESP

Isso demonstra que o AgTech no Brasil ainda é embrionário e não há carteiras de investimentos compatíveis com os negócios propostos. Temos sugerido a abertura de capital de investimentos na faixa de R$ 50 mil a R$ 500 mil. Quem desempenha um papel central nesta faixa ainda são as agências de fomento, como a FAPESP, já citada.

O potencial das empresas de AgTech, no entanto, é muito alto. Cerca de 17% das startups declararam um crescimento acima de 50% no último ano e 9% declaram uma taxa entre 31% e 50%. Dessas empresas, 23% possuem faturamento acima de R$ 100 mil.

Embora os resultados possam parecer singelos, os empreendedores declaram que alguns mercados podem chegar a R$ 860 bilhões e nenhum apontou um mercado menor que R$ 500 milhões. As projeções de faturamento foram bastante heterogêneas e em alguns casos extravagantes, porém nota-se que a grande maioria espera faturar entre R$ 1 milhãao e R$ 15 milhões.

Por fim, os empreendedores apontaram livremente o que os governos poderiam fazer para incentivar o sucesso das startups. Nesse tópico, a redução da carga tributária aparece como um item muito forte; financiamento estatal diversos tipos vêm na sequência e desburocratização.

Curiosamente, os empreendedores de AgTech sugerem fortemente uma melhoria na educação brasileira como forma de alavancar a inovação tecnológica no setor. Ainda sugeriram como a iniciativa privada pode ajudar no surgimento e sucesso das startups.

O apoio financeiro foi o mais apontado, com a característica de que deve haver um sistema onde ambas as partes ganham. Em segundo lugar aparecem mentoria e parcerias para desenvolvimento em conjunto de novas tecnologias, mas também foi citada a divulgação das startups e auxílio na criação de um network mais efetivo.

  • Dr. Mateus Mondin, do Departamento de Genética da ESALQ/USP
    José Augusto Tomé, Gestor do Ecossistema de Inovação e Empreendedorismo  do AgTech Garage
    Hermes Nonino, Membro do Conselho Consultivo do AgTech Garage.