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Na pegada do carbono – parte 1

Em uma série de três matérias a StartAgro apresentará o que há de mais novo sobre soluções para as questões do carbono no mundo.

Um dos grandes ciclos da natureza é o do carbono. Praticamente tudo o que existe na terra, principalmente se estiver vivo, é composto por esse átomo. Por exemplo, quando pensamos em orgânico, em termos químicos, estamos nos referindo a uma modalidade de moléculas compostas majoritariamente por carbono. Podemos assim dizer, que a existência na terra depende do carbono. Não é por menos que durante o processo evolutivo tudo o que é formado por esse elemento foi se tornando um grande ciclo. Como todo ciclo natural em um determinado momento ele atingiu um equilíbrio. Entretanto, as atividades humanas, interferem nesse equilíbrio. O grande problema é que nos últimos 200 anos essa interferência se acelerou de forma descontrolada e os seus efeitos podem ser visto e sentidos em praticamente todos os cantos do nosso planeta. A busca por responsáveis é incessante, mas uma coisa é certa e todos nós temos nossa responsabilidade.

Todas as atividades humanas geram algum tipo de emissão de carbono, desde comer até produzir o equipamento eletrônico mais sofisticado, tudo gera o que se chama de pegada de carbono. A pegada de carbono nada mais é do que uma medida técnica para se calcular quanto uma atividade está emitindo de carbono na atmosfera. Quando pensamos nessa atividade emissora de carbono, pode ser apenas um indivíduo, pode ser uma empresa, uma indústria, mas pode também ser um evento. Sabe todo aquele lixo plástico do último show que assistiu? Ele representa uma fração significativa de emissões de carbono e gerou uma pegada. Isso deixa claro que qualquer atividade rotineira irá gerar emissões atmosféricas dos gases de efeito estufa (GEEs). Por isso mesmo a caça pelos responsáveis recai sobre nós mesmos. A consequência mais eminente são as mudanças climáticas globais, que embora ainda existam alguns resistentes, não há dúvidas de que nosso clima mudou muito nas últimas décadas.

Tamanha a importância do desequilíbrio do carbono na natureza, decorrente da atividade humana, que foi criada uma metodologia para se estimar a pegada de carbono [carbon footprint no inglês]. Com essa metodologia é possível converter qualquer emissão de gases em uma medida de carbono equivalente, que se utiliza da sigla CO2eq. Essa medida está intimamente ligada ao que chamamos de pegada ecológica ou pegada ambiental. Esses dois conceitos tem por objetivo medir a quantidade de natureza ou espaço que precisamos para sustentar a vida humana com seus padrões. Só para dar uma dimensão de quão importante é a pegada de carbono, ela representa atualmente cerca de 50% da pegada ecológica. A mudança de nossos estilos de vida nos últimos 50 anos fez com que produzíssemos ou melhor dizendo, emitíssemos mais carbono na atmosfera do que a própria natureza é capaz de absorver.

O desenvolvimento científico para estimarmos a pegada de carbono é fundamental para analisarmos os impactos que causamos na atmosfera e suas consequências nas mudanças climáticas, os efeitos sob a camada de ozônio e de como podemos agir para frear essas emissões e evitar um colapso para a vida na terra. Ela permite que possamos projetar e pensar métodos que sejam eficientes para a absorção rápida do carbono atmosférico, sua fixação e manutenção em uma forma que não cause danos a natureza.

Atualmente contamos com vários protocolos e normas para a quantificação da pegada de carbono. O GHC por exemplo, é um protocolo que tem como base os métodos de quantificação de carbono desenvolvidos pelo IPCC [ Intergovernmental Panel on Climate Change] e vencedor do prêmio Nobel de 2007. Por esse protocolo é possível medir e formular inventários sobre a emissão de gases de forma compatível com as regulamentações ISO em cadeias de valor. Dentro das ISO, a 14064 tem como referência a implementação de processos que visam a redução de gases de efeito estufa principalmente para o setor privado e estatal. Enquanto a ISO 14067 tem como objetivo estabelecer os parâmetros que devem ser utilizados para que sejam medidas as pegadas de carbono. Um outro método é a PAS 2050, que determina a quantidade de gases emitidos por produtos e serviços e tem como objetivo a orientação de como gerenciar e reduzir essas emissões, de tal sorte que seja possível até utilizar informações em rótulos de produtos.

A produção de alimentos no mundo não está isenta e nem imune à caça aos responsáveis, mas mais importante do que tentar encontrar um único culpado, é o desenvolvimento de tecnologias e práticas que permitam uma produção mais sustentável. O cultivo de arroz irrigado por alagamento, o confinamento bovino, o intenso revolvimento de solo para plantio, entre outras atividades da agricultura são inevitavelmente fontes de emissão de gases de efeito estufa. Da mesma forma que, ao rodar na cidade com um carro movido a gasolina gera-se 2,3 Kg de carbono por litro consumido ou ainda que, a cada cinco sacolas plásticas utilizadas no supermercado gera-se 1 Kg de carbono emitido na atmosfera, isso sem falar no resíduo de alimentos. Todos os dias são desperdiçadas toneladas de alimentos que vão para os aterros sanitários e se tornam fontes potentes de emissão de gases para a atmosfera.

É inevitável que deixemos de produzir alimentos e que deixemos de comer, mas é crítico criarmos soluções tecnológicas que o ciclo de produção de alimentos possa estar harmonizado e em equilíbrio com os ciclos naturais e especialmente o do carbono.

Editado por

Mateus Mondin

Professor Doutor

Departamento de Genética

Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” – ESALQ

Universidade de São Paulo

Editor Chefe da StartAgro