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AgriHub reúne empreendedores, agricultores e academia numa grande conexão para o desenvolvimento de novas tecnologias no Mato Grosso

Polo de incentivo à inovação e ao empreendedorismo, o AgriHub consolida o movimentado ecossistema de startups do Mato Grosso. Com incubadoras, aceleradoras e um ativo intercâmbio com universidades e entidades públicas e privadas, há eventos quase que semanais voltados ao tema 

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Por Luiz Fernando Sá, de Cuiabá (MT)

Quem estiver interessado em conhecer o Brasil moderno, que avança independentemente das decisões governamentais, deve fazer regularmente viagens ao interior do País. E incluir no roteiro, obrigatoriamente, uma escala em Cuiabá. Aqui, na capital do Estado de Mato Grosso, não faltam iniciativas de grupos empresariais que deram as costas às dificuldades e resolveram criar um ambiente propício ao desenvolvimento e à geração de negócios.

A mais recente delas foi lançada oficialmente nesta quinta-feira 27 de outubro e deve colocar a região definitivamente no mapa dos investidores, desenvolvedores e empreendedores do setor de tecnologia. Trata-se do AgriHub, um polo de incentivo à inovação e ao empreendedorismo com o objetivo de reunir produtores e startups de base tecnológicas para a busca de soluções para problemas reais da agropecuária.

À frente da iniciativa estão três importantes entidades ligadas ao agronegócio no Estado, maior produtor brasileiro de grãos e de proteína animal: a Federação da Agricutura do Estado do Mato Grosso (Famato), o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-MT) e o Instituto Mato-Grossense de Economia Agrícola (Imea).

Desenvolvimento de startups

Há cerca de um ano elas se uniram para formatar um projeto que conectasse e atraísse para a região mais informação e, principalmente, empresas, pesquisadores e investidores inseridos no universo de desenvolvimento de startups.

“A ideia é mato-grossar a tecnologia agrícola”, afirma Heygler de Paula, um dos líderes do movimento e agora responsável pela operação do AgriHub. Ou seja, gerar soluções tecnológicas adaptadas às necessidades da região ao invés de simplesmente importar ferramentas criadas para outras realidades e que nem sempre são adequadas ao modelo de produção local.

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Um dos grandes diferenciais do AgriHub é a presença de produtores no mesmo ambiente de desenvolvimento das startups. Dessa forma, a entidade pretende criar uma rede de propriedades abertas para testar e validar as soluções propostas pelos empreendedores.

No período de formatação do projeto, a Famato verificou se a ideia tinha aderência junto a seus 350 associados e identificou os mais abertos a colaborar com os empreendedores, apontando seus problemas e abrindo suas instalações e lavouras para que as soluções sejam avaliadas.

Produtores e empreendedores

Na tarde de quinta-feira, poucas horas antes da cerimônia oficial de lançamento, seis desses produtores foram colocados frente à frente com empreendedores de seis startups – Agronow, Agrosmart, Agvali, Bart Digital, Inceres e Promip –, na primeira ação desse gênero organizada pelo AgriHub.

Num processo de fast dating, os encontros eram realizados individualmente para que cada empreendedor pudesse apresentar sua empresa a cada um dos produtores, propondo justamente a possibilidade de validar seu produto na propriedade do agricultor.

A intenção dos organizadores é repetir o formato em todas as principais cidades agrícolas do Estado, como Sorriso e Lucas do Rio Verde. “Não queremos apenas suar a camisa produzindo grãos, fibras e proteína animal”, afirma Rui Prado, presidente do sistema Famato/Senar. “Queremos suar a camisa produzindo também conhecimento e novas tecnologias que impactem na produção, aqui e no mundo todo”.

Outro foco do AgriHub é contribuir para a qualificação da mão de obra nas fazendas. Otávio Celidônio, superintendente do Senar, apresentou no evento números que revelam que a produtividade de cada trabalhador rural brasileiro é oito vezes menor que o de um francês, por exemplo. “Temos de ter um olhar inovador também para os processos de produção nas fazendas”, diz.

Parque tecnológico

A criação do AgriHub consolida o surpreendentemente movimentado ecossistema de startups do Mato Grosso. Uma série de iniciativas, voltadas ou não para o agronegócio, tem proporcionado aos empreendedores muitas oportunidades de aprendizado e networking, nas mais diversas áreas.

Com incubadoras, aceleradoras e um ativo intercâmbio com universidades e entidades públicas e privadas, há eventos quase que semanais voltados para o tema e, em função da vocação agrícola do estado, não raro surgem novas ideias associadas ao agronegócio.

O desenvolvimento de inovações para o setor é um dos pilares que sustentam, por exemplo, a criação do Parque Tecnológico do Mato Grosso, projeto orçado em mais de R$ 30 milhões e que reúne governo do Estado, entidades privadas e as principais universidades locais – UFMT, Unimat e IFMT.

Em fase inicial de construção, o Parque será instalado em uma área de cerca de 80 hectares na Grande Cuiabá, num grande campus onde terá como vizinhos novas instalações das três instituições de ensino. Cerca de R$ 20 milhões já foram investidos em infraestrutura para dar acesso ao local, que prevê ainda espaço para unidades de pesquisa de empresas que desejem se aproveitar da]o conhecimento gerado ali.

“O interessante dessa ideia é que ele tem vários donos, não é apenas uma política de um governo”, explica Washington Fernando da Silva, gestor do projeto do Parque Tecnológico. De fato, as decisões em torno da instituição são tomadas por um grande conselho formado por gente das áreas públicas e privadas.

“O que nos diferencia aqui em Mato Grosso é que formamos uma espécie de pacto para fazerem as coisas acontecerem, fazendo todas as conexões necessárias para que surjam aqui soluções para os nossos problemas. Temos muita gente capacitada que estava fazendo pesquisa para ser aplicada lá fora. Queremos provoca-los para que gerem conhecimento e negócios para Mato Grosso e não apenas estudos acadêmicos, diz.

Washington é um exemplo da agitação empreendedora de Cuiabá e região. Suas digitais estão em dezenas de projetos e eventos realizados por várias entidades, de startups weekends a células empreendedoras dentro das universidades.

Alguns desses eventos ocuparam até mesmo as instalações da Arena Cuiabá, estádio construído para sediar jogos da Copa de 2014. “Nosso negócio aqui é nutrir esse ecossistema de informação e conhecimento”, afirma. “Esse contato direto, com possibilidade de validar suas ideias, é o grande diferencial que o AgriHub pode oferecer às jovens empresas”.