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Artigo: As aceleradoras de startups descobrem o agronegócio

O Brasil ingressou de vez na era das aceleradoras de startups do agronegócio. Esse movimento está apenas no começo e abre diversas oportunidades para empreendedores de tecnologia 

Por Clayton Melo *

O Brasil ingressou de vez na era das aceleradoras de startups do agronegócio. Esse movimento está apenas no começo, e há sinais claros de que os projetos que começam a brotar não são casos isolados. Isso é bom para todo o ecossistema de inovação, seja no campo, seja na área de tecnologia. Mas o que esse novo cenário representa?

Vamos começar mapeando o terreno.

Dois grandes casos são emblemáticos.

No início de julho, no Global Agribusiness Forum, evento realizado pela consultoria agrícola Datagro, a Monsanto lançou – em parceria com a Microsoft – seu projeto de fomento a startups de agro.

Nesta semana, foi a vez da Basf, outra grande marca do setor, apresentar um programa de aceleração para empresas de base tecnológica com soluções para a agricultura – a iniciativa é desenvolvida em conjunto com a Ace, umas das principais aceleradoras de startups do Brasil.

Estamos falando, portanto, de duas das maiores multinacionais do agronegócio que resolveram investir em startups agro.

Piracicaba em destaque

Além desses exemplos, já há notícias de uma nova aceleradora entrando em campo. A AgTech Garage, de Piracicaba, apareceu no radar ao lançar um projeto que pretende mapear o ecossistema de startups tecnológicas voltadas à agricultura.

O “Censo de Startups Brasil – 2016”, uma parceria com a Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade de São Paulo (ESALQ/USP), está em fase de coleta de dados.

A ESALQ, aliás, é pioneira e protagonista do desenvolvimento do ecossistema de startups agro. A universidade paulista criou em 1994 a  Incubadora de Empresas Agrozootécnicas.  Em 2005, por meio de um convênio entre a ESALQ e diversas instituições, ela passou a adotar a marca ESALQTec Incubadora Tecnológica.

Com o objetivo de ajudar no desenvolvimento de negócios de tecnologia aplicada ao agronegócio, a ESALQTec tem em seu portfólio mais de 40 empresas, entre residentes, associadas e em pré-incubação. As startups atuam em áreas como entomologia, biogás e controles biológicos.

Potencial

Esses são apenas alguns dos exemplos de iniciativas voltadas ao fomento do embrionário setor AgTech no Brasil. Ainda há poucos dados disponíveis sobre o universo de novas empresas tecnológicas de agro – por isso a importância de mapeamentos como o que a AgTech Garage e a ESALQ estão preparando.

Os primeiros levantamentos, no entanto, demonstram que o potencial é enorme. Da 3,8 mil associadas da ABStartups (Associação Brasileira de Startups), apenas cerca de 80 (2%) são do segmento.

Entendendo o contexto

A tendência é essa proporção mudar rapidamente. Isso se deve uma conjunção de fatores. Do ponto de vista do agronegócio, a busca por competividade e eficiência é questão de sobrevivência no mercado global. Os grandes produtores sabem disso e por isso investem em inovação não é de hoje.

O fato novo, digamos assim, é que os pequenos empreendedores de tecnologia e da academia cada vez mais se interessam pelo setor. Inovadoras e ágeis, as startups dão um fôlego novo ao ecossistema de inovação da agricultura brasileira.

As grandes companhias tecnológicas, por sua vez, vêm fortalecendo há algum tempo suas divisões de agronegócio. IBM, Totvs e SAP são alguns exemplos.

Já os fundos de investimentos com foco em tecnologia e internet, nacionais e internacionais, estão em busca de bons mercados para destinar seus milhões. Comércio eletrônico, que já teve sua onda de investimentos, mostra sinais de saturação, além de exigir aplicações muito elevadas em um tipo de negócio que demora a dar retorno.

Investidores em busca de bons mercados

É nesse contexto que os setores de saúde, educação e, mais recentemente, o financeiro (as chamadas fintechs) têm recebido um volume crescente de recursos. Nesses casos, no entanto, a competição por espaço já mostra mais acirrada.

O agronegócio surge, assim, como uma nova fronteira para o investimento em empresas de base tecnológica. É um dos mais relevantes da economia brasileira, tem público consumidor garantido e demanda soluções inovadoras em diversas atividades.

Um dos caminhos para acelerar o desenvolvimento do setor AgTech no Brasil é a aproximação entre os diferentes elos da cadeia, como academia, investimento privado e o poder público.

Isso vai permitir um maior intercâmbio de experiências, conhecimento e, claro, o surgimento de mais negócios inovadores.

Quem ganha com isso é o Brasil, que terá uma agricultura ainda mais moderna e inovadora.