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Um raio-X no ecossistema global de startups

Relatório indica que existem mais de 3,5 milhões de startups no mundo e que o Brasil é líder disparado na América Latina

O ecossistema global de startups possui atualmente 3,5 milhões de empresas desta classe e estão distribuídas em 290 hubs ao redor do mundo. Esses são os números apontados pela Startup Genome em um relatório bastante longo. São quase 500 páginas de informações sobre ecossistemas, hubs e startups. O plano desse relatório é criar um panorama mais amplo a partir de uma pesquisa independente, que posteriormente são analisados extensivamente para se produzir quem são as lideranças nos ecossistemas mundiais de startups, tendências que estão surgindo e os desafios chaves que se impõem aos empreendedores. Os números podem ir além disso, resultando em referências para empreendedores, investidores, promotores de políticas públicas e outros stakeholders na tomada de decisões e na criação de motores que promovam a inovação e o crescimento econômico, principalmente em tempos desafiadores pós-crise Covid19.

A Startup Genome gera a partir de seus números um ranking de quais são os ecossistemas mais férteis e promissores do mundo. No topo desta classificação se mantém o Silicon Valley de São Francisco na Califórnia, seguido de Nova Iorque e Londres, que empatam na segunda posição. Para os analistas, esses são os três ecossistemas de maior sucesso global. Na quarta posição está Los Angeles, também na Califórnia e apenas o no quinta lugar temos uma cidade fora do eixo americano-britânico, que é Tel Aviv em Israel. Na sequência aparece Boston, que é um ecossistema muito tradicional e competitivo. A China aparece na sétima posição com Beijing, que acabou caindo duas posições em relação ao ranking anterior. Singapura aparece pela primeira vez no Top10 subindo impressivas oito posições em relação ao ano anterior, quando ocupava honrosamente a 18a posição. Outro ecossistema que causou surpresa no relatório é Miami na Flórida que subiu nada menos do que dez posições.

Outra observação causou espanto foi a queda dos ecossistemas chineses, que vinham se destacando consecutivamente. Beijing apesar de configurar no Top10, sofreu uma queda de duas posições. Shanghai perdeu uma posição e aparece como o 9o ecossistema global e Shenzhen teve uma cada de doze posições e já não aparece no Top30, considerado a excelência do empreendedorismo global por esse ranking.

A Índia continua fazendo bonito no seu posicionamento global. Com um crescimento contínuo o país tem duas cidade dentro do Top30, sendo Bengaluru-Karnataka na vigésima posição e Delhi na 24a. A Índia deve colocar em breve uma terceira cidade no topo global da inovação e empreendedorismo, já que Mumbai subiu cinco posições e agora está em trigésimo primeiro lugar. China e Índia são os únicos BRICS com esse resultado, sendo que nenhum dos outros países se aproxima deles.

Já na Oceânia, o resultado que mais chamou atenção foi a valorização em quase 43% do ecossistema australiano de empreendedorismo e inovação. Na Europa, Zurich foi o destaque com o maior crescimento ano após ano e agora passa configurar no Top30.

América Latina

A região que assombrou o mundo com um crescimento impressionante em 2021, em plena pandemia, viu os financiamentos VC desaparecerem em 2022. Para se ter uma ideia da recessão, os investimentos acima de Série B caíram 72% de um ano para o outro, sendo que apenas os fundos de Série B tiveram uma queda de 54%. Entretanto, os investimentos de Early-Stage que são críticos para os avanços dos negócios na região, tiveram uma queda de apenas 5% em relação a 2021. Ainda assim os relatório classifica a região como promissora e sustentável no longo prazo. Para se chegar a essa conclusão, os analistas mostraram que mesmo com a queda em 2022, os valores acumulados totais, foram maiores que todos os anos anteriores a 2021, o que é um resultado muito positivo e que a queda deve ser algo passageiro e momentâneo. Os números mostram que os investimentos de Early-Stage e acima de Série B, cresceram 49% e 143% respectivamente entre 2018 e 2022. As Fintechs tiveram um papel significativo na captação de investimentos do tipo Série A com um crescimento de 37% entre 2018 e 2022.

Disparado na liderança da região está São Paulo, que é a única cidade da região a configurar no Top30, ocupando a 26a posição. São Paulo ainda subiu duas posições em relação ao ano anterior e há indicações que continuará em crescimento nos próximos anos. Muito provavelmente esse desempenho impecável é puxado pelos grandes investimentos em Fintechs. O relatório aponta que o IPO do Nubank foi muito bem sucedido ao captar US$ 41.5 bilhões e que a startup Creditas que captou US$ 310 milhões em uma rodada de Série F mais o banco digital Neon que captou US$ 300 milhões são os impulsionadores de todo esse sucesso.

O relatório não deixa claro se os números se restringem a cidade de São Paulo ou ao estado como um todo. Por exemplo, é apontado que em São Paulo há mais de 2770 startups, sendo que onze delas valem mais de US$ 1 bilhão [unicórnios]. Esses números parecem concorrer com os levantamentos de entidades nacionais. O relatório faz um breve relato sobre a importância das agfoodtechs em São Paulo, mas não cita aonde elas estão precisamente. Há um destaque para a Universidade de São Paulo como a melhor universidade da América Latina pelo Times Higher Education e que ela beneficiaria a cidade, mas esquecem de destacar que a USP se espalha por todo estado. Também é injusto não configurarem a UNICAMP e a UNESP que contribuem significativamente para o desempenho da região. Isso demonstra que há uma confusão em como São Paulo está definida.

O Brasil sozinho responde por mais de 50% de todos os investimentos em data centers que ocorrem na América Latina e recebe destaque como a casa para os gigantes globais como Microsoft, Google, Airbnb, Netflix e Amazon. Atualmente são 51 data centers e mais 22 planejados, sendo que São Paulo contemplará a maior parte deles. Com isso é esperado que o mercado de data center cresça 8,26% CAGR nos próximos cinco anos. Esses números reforçam a projeção de crescimento da região e de forma sustentável.

O ecossistema São Paulo em números

São Paulo conta atualmente com 15 unicórnios sendo que a média global dos outros ecossistemas ao redor do mundo é de 4 unicórnios. O total de financimento em Early-Stage, que é o grande impulsionador de negócios iniciantes passa de US$ 1,8 Bilhões que é mais que o dobro da média mundial para esse tipo de investimentos, considerando o intervalo de 2020 a 2022. Os investimentos de VC entre os anos de 2018 e 2022 merecem destaque, pois atingiram o acumulado de US$ 17 Bilhões o que é quase três vezes mais do que foi registrado na média do resto do mundo. Os investimentos de Série A ficaram ao redor de US$ 7,8 milhões ficando ligeiramente acima da média global. Entretanto, os investimentos de Seed Round que frequentemente alavancam a entrada das startups no mercado ficou com média de US$ 450 mil o que representa aproximadamente a metade do que as startups do resto mundo recebem nessas chamadas de investimentos. Com isso tudo o ecossistema São Paulo atinge o valor de US$ 113 bilhões. O número que desestimula o avanço mais rápido são os salários que em média são 37% mais baixos do que a média global.

Os destaques em AgTech

O relatório apresenta que o Brasil teria ao redor de 1700 startups de agtech não ficando claro se nessa categoria se inserem outras classes como FoodTechs e AgFinTechs. Deste total praticamente metade estão localizadas no estado de São Paulo. O maior destaque fica por conta do AgTech Garage como hub de inovação com cerca de 80 corporações participantes e mais de 1000 startups cadastradas. Entretanto, não se apresenta que a iniciativa se insere em um ecossistema maior chamado AgTech Valley – Vale do Piracicaba e que se localiza fora da cidade de São Paulo. Destacam ainda que o hub lançou uma circuito de inovação em FoodTech pouco antes da sua aquisição pela PwC. E finalmente o último destaque nesse relatório global fica por conta da startup TerraMagna ter levantado US$ 40 milhões em sua rodada de Série A.

Brasil versus América Latina

Além de São Paulo, mereceram destaque do relatório as cidade do Rio de Janeiro e de Florianópolis pelo acelerado desenvolvimento de ecossistemas de startups se aproveitando de incentivos federais. São apontadas ainda as cidades consideradas como ecosistemas emergentes e promissores, sendo que encabeçando esse grupo está a cidade do Rio de Janeiro, seguido de Curitiba e Belo Horizonte. Na quarta posição aparece a cidade mexicana de Monterrey. Os Top5 da região tem a liderança absoluta de São Paulo, seguida pela Cidade do México, Buenos Aires na Argentina, Santiago-Valparaiso no Chile e Bogotá na Colômbia. A Cidade do México tem sido uma grande protagonista na América Latina, assumindo com grande margem a sua segunda colocação. O valor desse ecossistema mexicano alcançou os US$ 30 bilhões, sendo que Bogotá teria um valor de US$ 13 bilhões e Buenos Aires de US$ 12 bilhões. No segmento de investimento em Early-Stage o total acumulado pela Cidade do México alcançou a marca de US$ 1,16 bilhões, se aproximando de São Paulo que teve US$ 1,79 bilhões e disparando frente a Bogotá e Buenos Aires que tiveram respectivamente US$ 530 milhões e US$ 360 milhões em acumulados de investimentos nessa categoria. Isso indica que se o México continuar com esse ritmo de investimentos e conseguir alavancar rodadas significativas acima Série B em cerca de cinco anos o ecossistema será disparado o segundo colocado e o mais promissor depois de São Paulo. Os números indicam que a Cidade do México está em processo de amadurecimento como ecossistema de inovação, mas dá fortes indicativos de que é sustentável e atraente para mais investimentos.

Editado por

Mateus Mondin

Professor Doutor

Departamento de Genética

Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” – ESALQ

Universidade de São Paulo

Editor Chefe da StartAgro