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Quebra do SVB: qual impacto para o setor de startups?

“O SVB não ficou insolvente de um dia para o outro, ele já estava com problemas há vários trimestres”, diz Rodrigo Iafelice

Sócio, investidor e Board Member de Agtechs e Biotechs, Rodrigo Iafelice conhece como poucos o agronegócio brasileiro. Ex-Solinfitec, e atualmente advisor de outras startups, Iafelice conversou com o Startagro para tratar sobre a quebra de dois bancos regionais dos Estados Unidos e seus eventuais impactos na economia brasileira.

Otimista, o investidor não vê sinais de recessão na economia norte-americana, mas se posiciona a favor da redução dos juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA). Além disso, não vê grandes impactos para a economia global no curto prazo.

Entretanto, destaca que a era do “dinheiro fácil” para as startups se encerrou e, com isso, as empresas devem focar mais na realidade e em resultados concretos.

STARTAGRO: A quebra do Silicon Valley Bank (SVB) é o sintoma de uma economia que mostra os primeiros sinais de recessão?

Iafelice: Não acho. Para mim a velocidade com que os US$ 42 bilhões foram retirados do SVB (menos de 24 horas) comprova o quanto a atual ‘Era da informação’ deve ser cuidadosamente gerida ou o prejuízo pode ser imensurável. A notícia que se espalhou na quarta-feira (8) resultou em uma corrida de retirada de recursos do SVB na última quinta-feira jamais vista na história. O SVB não ficou insolvente de um dia para o outro, ele já estava com problemas há vários trimestres, tanto que as ações do banco caíram mais de 60% nos últimos meses. Entretanto, a informação repassada, inclusive por alguns fundos de Venture Capital (VC) de que o banco estava tentando captar recursos no mercado sem sucesso, resultou em algo jamais visto. Tudo isso, aliado ao momento de juros altos no mundo, menos investimentos feitos por VC nos últimos 18 meses, valuations em queda e menos liquidez no geral, pioraram ainda mais a situação do SVB e das empresas de tecnologia em geral. O resgate anunciado no domingo (12) pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) alivia todos os clientes do SVB que não perderam nada, mas com certeza gerará consequências nefastas no longo prazo já que bancos menores terão maior escrutínio na concessão de credito e, como consequência, empreendedores e empresas sofrerão com custos maiores.                                                         

STARTAGRO: Qual o efeito prático que a situação do SVB traz para o setor de startups como um todo?

Iafelice: No curto prazo, maior dificuldade de acesso à credito e à investimentos. No longo prazo, maior regulação, mais restrições e, como consequência, maiores custos de equity e dívida.

STARTAGRO: Como investidor, você acredita que há risco de contágio para outros setores?

Iafelice: Não no curto prazo.

STARTAGRO: O Fed mostra resistência em diminuir o ritmo do aumento de juros. Como você analisa esse cenário?

Iafelice: Como dizia Milton Friedman, a inflação é sempre criada por Washington. Acredito que com a ameaça de recessão o Fed deve sim segurar as altas de juros para tentar conter os custos mais altos para o povo americano. Estive nos EUA recentemente e, de fato, é impressionante como tudo está consideravelmente mais caro.

STARTAGRO: No caso brasileiro, você vê alguma possibilidade de acontecer algo parecido com o que aconteceu com o SVB por aqui?

Iafelice: Não. Acredito que a regulação do sistema bancário brasileiro é mais restritiva que a norte-americana em relação à saúde dos bancos, nível de depósitos de curto e longo prazo, etc. Portanto, não vejo algo parecido ocorrendo no Brasil, a menos que por fraude.

STARTAGRO: Uma parcela de economistas não vê risco de quebra para as agtechs devido ao agronegócio. Que leitura você faz disso?

Iafelice: Qualquer empresa pode quebrar. Como já quebrei, sei bem disso. O agro, de fato, oferece ótimas oportunidades para as agtechs e outros stakeholders nele inseridos, mas é perigoso e falacioso achar que o risco de quebra é menor só por se tratar de um setor pujante e que gera enorme valor.

Autor:

César H.S. Rezende
Jornalista Portal DATAGRO
Repórter freelancer Startagro