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Mudanças antes, dentro e depois da porteira: 5 reflexões sobre solos e agronegócio para o triênio 2020,2021 e 2022

Os anos de 2020 e 2021 provocaram mudanças pessoais e profissionais em todo o planeta. Novos hábitos nas cidades e no campo, intensificação da agricultura digital, e com isso na comunicação digital, na cultura inovativa e nas oportunidades tecnológicas. Sem dúvida um dos marcos de 2020 e 2021 foi o aumento no surgimento e visibilidade das startups em diferentes segmentos como AgTechs e AgriFoodTechs. Só no Brasil são mais de 1600 soluções conectadas com o agronegócio.

Temas como a segurança alimentar, agricultura sustentável e de baixo carbono entraram em um novo nível de discussão e aplicações no mundo. O protagonismo do agronegócio brasileiro ficou ainda mais evidente, especialmente em tecnologias para manejo dos solos tropicais.

A seguir veremos alguns fatos, indicadores e reflexões sobre essas mudanças que aconteceram em 2020 e 2021 e certamente irão impactar não só o ano de 2022, mas também as próximas décadas em todos pontos da circularidade da cadeia produtiva e de consumo de alimentos:

1° Novos hábitos: mudanças com o tempo

Você irá ler essa primeira reflexão em pouco mais de 90 segundos. Enquanto isso, no canavial a colhedora terá cortado 3 toneladas de cana. Nesse mesmo tempo o coração do beija-flor que visita sua casa terá batido 3 mil vezes e o da baleia azul nas águas frias da Antártida e do Pacífico Norte cerca de 6 vezes.

Seja em 90 segundos ou no últimos 90 dias vivenciamos mudanças em nossas vidas pessoais e profissionais. A palavra live teve um aumento de busca no Google da ordem de 2000%. Também houve aumento na consulta a assuntos relacionados com as palavras: vídeo chamada (700%), fake news (300%), webinar (500%), call (100%), conexão (60%) e online (50%). Os números representam o interesse de pesquisa das pessoas nas diferentes regiões do Brasil nos últimos 90 dias.

2° Agricultura digital no Brasil: impactos e inclusão tecnológica

Uma pesquisa realizada pelo grupo McKinsey & Company e parceiros com 750 agricultores, 5 culturas diferentes e 11 estados brasileiros, mostrou que 36% dos agricultores pesquisados fazem compras online para a fazenda, contra 24% nos EUA. O relatório traz informações importantes para insights em agricultura 4.0 e sua relação com a sustentabilidade, comercialização, planejamento de safra, financiamento, compra de insumos e aquisição de maquinários.

 

3° Interconexões com o agro: mais de duas mil soluções em transporte, finanças, ensino e marketing

Entre os anos de 2017 e 2020 foram elaborados diferentes mapeamentos de startups para agronegócio nacional e internacional, as chamadas agtechs. Essas agtechs são agrupadas em categorias que representam suas soluções e tecnologias para o campo, segurança alimentar e empresas agrícolas inteligentes do inglês smart farming companies”.

Agricultura temperada e agricultura tropical possuem algumas diferenças: clima, tipo de solo, cultivo, máquinas, sensores, armazenamento e muitos outros fatores que fazem parte do dia a dia do gestor agrícola e produtor rural.

Mapear e entender as perspectivas dessas agtechs e seus ecossistemas de tecnologia é importante para reconhecer oportunidades de parceria, além de potenciais internos e externos para ações integradas com agrifoodtechs e data science.

No Brasil também houve um grande aumento de soluções tecnológicas propostas por startups. Responsável por cerca de 20% do PIB do Brasil e por gerar aproximadamente 20% do total de empregos utilizando menos de 29% da área agricultável, a agricultura brasileira é referência em sustentabilidade e segurança alimentar. A notoriedade do agro nacional, é resultado de uma ampla rede de soluções em vários pontos da sua circularidade. Entre as mais inusitadas estão logística, gestão de pessoas, marketing, finanças e capacitação de equipes.

Se adaptar, se reinventar e adquirir novas habilidades será necessário dentro ou fora do campo. O país já possui mais de 1.600 soluções em logística e transporte (AutoTechs), gestão de equipes (HR Techs), tendências do marketing (MarTechs), gestão financeira (Open Banking), treinamentos e capacitação de equipes (EdTechs), tecnologias para alimentação e segurança alimentar (FoodTechs), além de tecnologias diretas para o campo (AgTechs).

4° Tecnologias para agricultura tropical: o protagonismo brasileiro e o manejo sustentável do solo

Desde os primeiros passos da agricultura, há mais de 10 mil anos até os dias atuais, os profissionais da agronomia, demonstram sua capacidade de solucionar desafios no campo em diferentes lugares do planeta.

Parabéns aos profissionais desse setor que se esforçam para alimentar o mundo cada vez mais de forma sustentável. O empoderamento e a evolução destes profissionais nas diferentes partes do mundo, especialmente no Brasil, podem ser observados por meio de indicadores de produtividade, sustentabilidade e de pesquisa.

Segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), o Brasil vem se destacando em diferentes pontos: 1) Índice per capita da produção agrícola bruta cerca de 20% superior em relação à América do Norte e à União Europeia; 2) Reduziu em quase 5 vezes as emissões de CO2 nas atividades agrícolas em relação a Ásia; 3) Mesmo com investimentos no setor cerca de 9 vezes menor do que os EUA e com 8 vezes menos pesquisadores do que a Argentina por 100 mil agricultores, ainda assim o país é referência mundial no agronegócio.

De acordo com o Tribunal de Contas da União (TCU), hoje no Brasil para cada R$1 investido no conhecimento sobre o solo, o potencial de retorno é de R$ 180. Já segundo o Atlas da Agropecuária Paulista, para cada R$ 1 investido na formação de pessoas em Ciências Agrárias o retorno é superior a R$ 12.

Na Plataforma Lattes, uma das maiores bases de dados em recursos humanos para ciências do mundo, cerca de 285 mil currículos são das Ciências Agrárias e pouco mais de 112 mil especificamente de Agronomia. Uma das especialidades que vem crescendo é a de qualidade das argilas e magnetismo do solo.

 

São aproximadamente 45 mil dissertações e teses em agronomia cadastradas no catálogo da CAPES, sendo quase 25% deste total em pesquisas relacionadas com nitrogênio, fósforo, potássio, calagem, mineralogia, gesso, organomineral, liberação lenta e agromineral. A demanda por insumos relacionados ao solo tem grande participação no custo de produção. A cada ano, novos caminhos, possibilidades e boas práticas, aumentam ainda mais a competitividade científica e eficiência do agronegócio brasileiro.

Em 2020 a Netflix lançou o documentário “Solo Fértil” mostrando o papel do solo como ator principal para vida no Planeta Terra. Particularmente fico feliz em ver as ciências agrárias, especialmente o solo ganhando espaço nas mídias.

Antes mesmo da transformação digital, a agricultura brasileira já era referência em tecnologia para governança do solo. Nossa história, “causo” ou storytelling tem ótimos trechos e passagens seja em indicadores sustentáveis, pesquisas em solos, soluções interconectadas ou no arrojo das desbravadoras do agro.

Gostaria muito de ver um segundo capítulo desta série do Netflix nos próximos anos contando essas e outras grandes histórias da agricultura tropical sustentável.

5° A evolução da governança do solo no Brasil: a força da ciência do solo brasileira para o desenvolvimento sustentável mundial

A tropicalização da agropecuária, bem como a evolução das cidades e das fazendas inteligentes, está diretamente relacionada com o entendimento do solo, no popular “terra”. A melhor compreensão das várias dimensões, impactos e oportunidades geradas pela terra está relacionada com a governança do solo. Trata-se da integração de metodologias, processos, além da elaboração de estratégias e políticas públicas para balizar e orientar a tomada de decisão sobre uso e ocupação do solo.

Linha do tempo da Governança do Solo no Brasil: alguns Marcos históricos

# 1947: Comissão de Solos do Serviço Nacional de Pesquisas Agronômicas (SNPA) do Ministério da Agricultura

Consolidação da Sociedade Brasileira de Ciência do Solo – SBCS

# 1953: Programa de Levantamento de Reconhecimento dos Solos Brasileiros

# 1970: Projeto RADAMBRASIL

# 2010: Criação da Rede Mapeamento Digital de Solos – MDS

#2012: Capilarização da SBCS com a criação dos núcleos regionais

# 2013: Brasil integra o Painel Técnico Intergovernamental de Solos – ITPS

#2015: Elaboração da Carta Brasília apresentando ao governo o solo como pilar estratégico para o país

Conferência para Governança do Solo promovida pelo TCU

# 2016: Realização do evento internacional “1° Pedometrics Brazil” no IAC, focando governança e ações transdisciplinares

#2017: Publicação da Edição Especial do Boletim da Sociedade Brasileira de Ciência do Solo sobre ferramentas e metodologias focadas em solos tropicais

# 2018: Realização do Congresso Mundial de Solos no Brasil. Nos quase 100 anos do Congresso Mundial, foi a primeira vez que foi realizado em um país do hemisfério sul

#2020: Lançamento do Portal Pronasolos

 

Autor: Diego SiqueiraDiretor da Quanticum