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“Momento é de cautela”, apontam players para o setor de agtechs em 2023

Possível recessão na economia dos Estados Unidos, continuidade do conflito entre Rússia e Ucrânia e Covid-19 na China compõem um cenário de cautela para quem quer investir.

Alguns bancos de investimentos e organismos multilaterais têm revisado o crescimento de inúmeras economias globais e o momento é de “puxar o freio”.

No caso das startups, a situação é um pouco mais complexa. Inúmeras empresas demitiram em 2022 e o combo de juros altos somado a um quadro de incerteza econômica tende a agravar um pouco o contexto.

Foi pensando nisso, que a StartAgro conversou importantes players do setor de agtechs acerca do cenário para as startups esse ano. No bate-papo, Tatiana Fiuza, head de Inovação do Cocriagro, Ricardo Matiello, CEO da Ricma e Renan Salvador, Diretor de Inovação da Sociedade Rural do Paraná, analisam a atual conjuntura, apontam caminhos e analisam como o novo governo pode desenvolver o setor.

Startups em 2023

Como você enxerga o cenário de 2023 para as startups, tomando como base 2022?

Tatiana Fiuza – Head de Inovação Cocriagro

O ano passado aconteceu um movimento a ser bem observado no sentido de acesso a investimento por parte da startup. Acesso a crédito é sempre algo mais complicado para esse tipo de empresa, pois geralmente, não há lastro.

Só que foi um ano que muitos investidores colocaram o pé no freio e só leva hoje quem realmente entrega.

Ainda não há por parte das empresas de concessão de crédito um trabalho voltado para essas empresas que têm o capital intelectual como base. Algumas linhas públicas existem a taxas de juros subsidiadas, mas ainda para startups mais maduras.

Ricardo Matiello – CEO da Ricma

Uma possível recessão mundial ou a elevação das taxas de juros para conter a inflação, certamente terá impacto direto sobre a forma que se acessa o crédito hoje. Muitas empresas que tomam crédito com base em um cenário futuro estável, terão de fazer de forma mais cautelosa, levando em conta o que de fato é fundamental para manter a operação.

Tudo o que for relacionado à planos de expansão, a tendência será de aguardar um pouco mais até que o cenário comece a mudar, abrindo para uma perspectiva de melhoria na macroeconomia.

Renan Salvador – Diretor de Inovação da Sociedade Rural do Paraná

Tenho conversado com muitos fundadores e CEO’s de startups, principalmente agtechs, sobre o assunto e é unânime, o volume de dinheiro disponível em fundos (Venture Capital, Angels e Coporate Venture) está escasso. Mas esse não é um cenário exclusivo do mundo de startups.

O mercado está cauteloso com investimentos de alto risco devido a vários temas que estão expostos todos os dias nos noticiários como por exemplo, recessão mundial, inflação, inverno crypto, sanções da guerra, entre outras. O momento realmente não é de vacas gordas para as startups.

Agronegócio brasileiro

De que forma o agronegócio brasileiro pode ampliar a participação das startups no processo produtivo do País?

Tatiana Fiuza – Head de Inovação Cocriagro

Ampliando a base para testes de soluções. Há muitas startups no mercado, mas ainda há poucos earlies adopters [adotadores iniciais de tecnologias], ou seja, aqueles produtores dispostos a testar soluções.

Uma vez que a base de testes aumenta, o número de adotantes de tecnologias também adotará. Isso porque o produto está muito ligado ao que o vizinho está fazendo.

Além disso, a conexão com hubs de inovação, a exemplo do Cocriagro. Que promove a conexão dessas startups com produtores. Será muito natural e de grande proporção quando tivermos a roda de conhecer, testar e validar funcionando de maneira rápida no agro.

Ricardo Matiello – CEO da Ricma

Um dos maiores entraves que enxergo hoje é que grande parte das empresas do agro não estão muito habituadas com a inovação, o que as leva a pisar em um terreno que elas não conhecem muito bem, e isso freia a adoção de novas tecnologias. Entendo que não é má vontade, mas sim uma questão cultural.

O agro sempre foi mais conservador. Porém, temos iniciativas interessantes, onde hubs de Inovação (com foco no agro) têm desempenhado um papel fundamental em mostrar os caminhos para estas empresas. Cito aqui dois exemplos fantásticos que são o Hub Cocriagro (de Londrina-PR) e o AgTech Garage (de Piracicaba-SP). Iniciativas como estas são um caminho promissor para a inovação chegar mais rápido lá na ponta.

Renan Salvador – Diretor de Inovação da Sociedade Rural do Paraná

Abrindo as porteiras e a mente para novas tecnologias. O objetivo principal da agtech é aumentar a rentabilidade do agronegócio e para que isso aconteça todos os elos da cadeia produtiva devem estar abertos a melhorarem seus processos através de novos meios de “fazer as coisas”.

Melhorar processos com tecnologia não é somente colocar um aplicativo no celular, vai muito além envolvendo pessoas utilizando tecnologias para aperfeiçoar os processos.

É um caminho contínuo que não podemos parar. Estamos seguindo a passos largos e precisamos acelerar, hoje o Brasil já é destaque em utilização de tecnologia no agronegócio, mas podemos correr muito mais rápido.

Novo governo

O atual governo tem inúmeros desafios para os próximos quatro anos. Pensando nisso, como eventuais reformas e ações do Executivo e do Legislativo podem desenvolver o setor das agtechs?

Tatiana Fiuza, head de Inovação Cocriagro

Startups são que estão em fase inicial onde o tema tributação é bem complexo. Tanto do ponto de vista do conhecimento técnico – visto que a startup entende de tecnologia e não, necessariamente, de tributos. Seja do ponto de vista recursos iniciais para alavancar negócios.

Algumas regras de tributação já foram estabelecidas com o Marco Legal das Startups, mas somente para as novas que se enquadram em um determinado regime.

Acredito que uma reforma nesse sentido, precisa levar em conta o tipo desses negócios, sua falta de lastro para crédito, sua atuação a partir de serviços e o estágio em que essa startup se encontra.

Ricardo Matiello – CEO da Ricma

Nossas startups do agro só serão fortes se estiverem inseridas em um mercado agro forte. Sabemos que o Brasil é referência mundial na produção de alimentos, porém algumas questões de esfera governamental precisam estar bem resolvidas, para não atrapalhar este setor pujante da nossa economia.

Algumas questões de infraestrutura acredito serem tão importantes como as reformas, como melhoria para o escoamento da safra (em especial no Centro-Oeste e Cerrado), portos melhores estruturados e até mesmo a questão de armazenamento da produção. De onde o governo vai tirar dinheiro para tudo isso é o ponto que precisa ser entendido. 

Renan Salvador – Diretor de Inovação da Sociedade Rural do Paraná

O segredo é o próximo governo não pensar somente nos próximos quatro anos. Todos os empreendedores brasileiros sentem na pele todos os dias a burocracia e os impostos mais elevados do mundo. Não é segredo para ninguém que o governo deve focar em projetos de tributações justas principalmente para empresas que levam novas tecnologias ao agronegócio, no qual essas irão contribuir para que o Brasil seja a grande fazenda do mundo.

Outro caminho a seguir é trabalhar fortemente na Educação Empreendedora para que novos empreendedores busquem resolver problemas que impedem o Brasil de produzir cada vez mais.

Repórter

César H.S Rezende

Jornalista do Portal DATAGRO

Repórter freelancer StartAGRO