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Fertilizantes sustentáveis acelerados a partir da Fórmula 1

A euforia e a preocupação não são poucas em um momento tão crítico para o mundo. Os movimentos de guerra dentro da europa voltam a ecoar depois de quase um século. E não para menos, começamos a confabular como isso pode nos afetar. Se já não bastasse os próprios problemas internos e a pandemia que afetaram drasticamente a segurança no fornecimento de fertilizantes, agora temos esse cenário entre Rússia e Ucrânia que traz ainda mais instabilidade.

O que não pode acontecer é ficarmos parados esperando a tragédia para depois tomarmos providências. Uma demonstração de organização e inteligência é a capacidade de antecipar problemas e estabelecer soluções rápidas, duradouras, viáveis e sustentáveis. No Brasil, essas características normalmente são encontradas nos empreendedores do agronegócio.

Um exemplo que contempla com naturalidade essas quatro características chaves é Ernani K. Judice, cofundador na Geociclo Biotecnologia S/A e fundador da Agrion AgriSolutions. A trajetória empreendedora de Ernani é no mínimo inusitada e mais do que singular. Ele começa a se entender como empreendedor quando decide realizar seu e se tornar piloto de fórmula 1. Foi por muito pouco que ele não alcançou sua meta, sendo sua audácia interrompida por um acidente. Entretanto, essa busca e empenho para chegar na Fórmula 1, desenvolveu no futuro ex-piloto e possivelmente campeão, um olhar muito apurado para a inovação com sustentabilidade.

Ao ter que deixar seu sonho de piloto de carros, passou a buscar novas oportunidades para trabalhar diretamente com sustentabilidade. A primeira grande chance veio com sua entrada no projeto de um aterro sanitário no estado do Rio de Janeiro. Ernani teve um aprendizado holístico nesse período, quando atuou ativamente em todos os detalhes da execução do projeto implementado em mais de 10 municípios.

A vivência nesse novo mundo, visualizando de perto toda a poluição gerada nas cidades, fez com que Ernani começasse a pensar em alternativas para a melhor utilização de todos aqueles resíduos. A falta de gestão dos resíduos gera um problema muito grande de poluição, que vai desde a emissão de gases de efeito estufa, gases tóxicos para os seres vivos e contaminação de lençóis freáticos, cursos de rios e outros incalculáveis problemas. Ao mesmo tempo boa parte deste resíduos não precisam necessariamente ser descartados em aterros sanitários e se tornarem graves problemas ambientais e sociais. Com clara visão deste cenário, Ernani encontra um colega, Olavo Monteiro de Carvalho e juntos transformam um projeto em desenvolvimento na Geociclo Biotecnologia S/A. A Geociclo tem como objetivo transformar resíduos orgânicos em fertilizantes, criando um produto totalmente novo no mercado.

 Foram cerca de 13 anos dedicados exclusivamente a este projeto. Os altos e baixos, desenvolveram resiliência e coragem para oferecer um produto totalmente novo ao mercado e extrema maestria. A empresa cresceu e ganhou força a ponto de decidirem entregar o controle para um fundo de private equity. Com a Geociclo iniciando uma nova fase de seu desenvolvimento, o espírito empreendedor de Ernani despertou novamente. O empresário queria novos desafios, queria colocar para fora novas ideias e modelos, pensados e construídos em sua mente ao longo do período da Geociclo. Nesse ponto de sua trajetória já era explícito seu amor pelo mundo dos fertilizantes sustentáveis e decidiu iniciar um novo negócio. Surge então a Agrion AgriSolutions, uma startup com tecnologia para produção inovadora de fertilizantes organominerais. A tecnologia da Agrion garante um aumento de performance dos cultivos, utilizando-se de um produto com um custo-benefício único quando  comparado aos fertilizantes tradicionais.

Ernani nos testemunha que “a Agrion nasceu de uma ideia totalmente original para o desenvolvimento de um produto inovador, com um modelo de negócio totalmente novo e nada comparado com qualquer outro já existente”. O empresário ainda diz que “não perdi minha essência de trabalhar com sustentabilidade, tanto que a empresa produz fertilizantes especiais que utilizam melhor os recursos naturais e reduzem os impactos ambientais e ao mesmo tempo aumentam a produtividade com uso da tecnologia e inovação que criamos”.

O empreendedor tem como tese que “o futuro da agricultura não pode mais aumentar a produtividade a qualquer custo, principalmente ao custo ambiental. Tendo que melhorar a produtividade sim, para alimentar a população que continua crescendo, mas preservando as reservas naturais. E para isso temos que utilizar as tecnologias, criando soluções mais inteligentes e este é, essencialmente, o foco da Agrion”. E vai ainda mais longe quando visualiza que “hoje os produtores já vem entendendo mais sobre a sustentabilidade e como ela também pode agregar valor ao seu produto no final da cadeia, já nas gôndolas do mercado. Assim, criar um produto viável econômica e ambientalmente é a principal chave para o sucesso da Agrion AgriSolutions hoje no mercado”

O grande diferencial da Agrion está na tecnologia 100% nacional e na não dependência de matérias-primas vindo do exterior. Esse sistema faz com que um grande problema enfrentado pelos produtores seja resolvido, que é a redução da dependência dos fertilizantes importados. Esse aspecto já era crítico e tornou-se ainda mais severo em tempos de pandemia e com a crise financeira que se instalou, elevando o câmbio do dólar para níveis impraticáveis.

Quando questionado sobre uma possível fórmula para o sucesso dentro do agronegócio, Ernani não tem dúvida ao apontar que, “deve-se sempre associar os seguintes pontos: tecnologia, sustentabilidade e viabilidade econômica; sendo que a falta de um destes aspectos muito provavelmente levará a iniciativa ao fracasso”.

A Agrion vem crescendo muito rapidamente no mercado, apesar de ter apenas dois anos de existência, sendo fundada em 2020. Isso se explica pela bagagem das pessoas que estão à frente da startup. Ernani destaca que “não apenas ele, mas todos os envolvidos trazem uma longa história de sucesso, que faz com que se ganhe muita agilidade no crescimento”. Por toda essa bagagem das pessoas que trabalham dentro da Agrion, “é que a empresa é uma startup em seu modelo de negócio, mas não no produto, no processo ou na produção que realiza”, destaca seu fundador.

Uma das grandes inovações no modelo de negócio da Agrion é um sistema de produção muito próximo do on-farm. “Por exemplo, nas empresas sucroalcooleiras a matéria-prima para produção dos fertilizantes está dentro da planta industrial, isso faz com que o custo de operação logística seja muito baixo, quando comparado com sistemas que precisam exportar esse material para fora da usina e depois trazê-lo de volta na forma de processado”, destaca Ernani. A operação se baseia na implementação de fábricas dentro das próprias usinas que compram o produto final. “Estamos literalmente lado a lado com nosso fornecedor e ao mesmo tempo com nosso cliente final, que é o mesmo”, destaca Ernani. Ernani finaliza nos contando que ao criar a Agrion, um de seus objetivos “era o de criar uma empresa que fosse um dos pivôs para o surgimento de um novo movimento em que o agronegócio brasileiro seja, principalmente, mais eficiente, produtivo, utilizando menos espaço físico e menos recursos naturais. Trazendo para o mundo um claro exemplo de que o agronegócio é cíclico e sustentável”.