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Das soluções digitais ao lançamento de satélites, as novidades do AgTech brasileiro para ficar de olho

Quando analiso o mercado brasileiro de startups, vejo o quanto evoluímos e amadurecemos nos últimos 10 anos. Não somente o perfil do empreendedor mudou, mas também o perfil dos modelos de negócios. Hoje temos uma oferta de tecnologias e soluções em um formato bem mais maduro e consistente do que tínhamos no início da década. Isso demonstra que muitos dos programas de treinamentos e preparação de empreendedores foram realmente efetivos na construção de uma massa crítica e de opinião. Esse processo de amadurecimento do mercado empreendedor de AgTech também é resultado de uma mudança no perfil dos investidores, que passaram a entender melhor o sistema de produção agrícola e seus ciclos tão peculiares.

Minha conclusão é que 2022 foi um ano bastante frutífero e de resultados muito animadores para as startups AgTech. Resolvi separar o FoodTech para uma próxima matéria, pois ambos merecem uma análise muito particular, devido as características intrínsecas de cada uma. Como bem sabemos o segmento AgTech contempla uma série de frentes, como apresentamos na matéria AgriFoodTech descomplicado e organizado para investidores e vai desde biotecnologia a bioenergia e biomateriais, e de marketplaces até robótica. Ou seja, há uma vasta gama de oportunidades no que denominamos upstream, uma vez que a classificação dentro e fora da porteira é totalmente desatualizada e em desuso.

Na minha revisão dos principais rankings de startups AgTech notei uma falta de representatividade de muitas das frentes de AgTech. Por exemplo, nesses rankings não constam empresas de biotecnologia ou de marketplace e tenho certa resistência em acreditar que elas não tenham desempenhado um papel significativo no nosso mercado. Das 10 startups mais destacadas no mercado, de acordo com um dos rankings, temos uma empresa de diagnóstico e mapeamento de nanopartículas do solo, a Quanticum e uma empresa com foco na redução de emissões de CO2 originadas de incêndios florestais, a Um Grau e Meio. Todas as demais startups classificadas tem alguma correlação com tecnologias digitais. No topo da classificação aparece a Aiko que desenvolve sistemas que garantem ganho de eficiência e sustentabilidade em operações do agronegócio. Nessa mesma linha a SciCrop aparece novamente no topo entre as três startups mais reconhecidas do agronegócio brasileiro. Temos ainda dentro deste seleto grupo a Ecotrace Solutions focada em blockchain para commodities e Implanta IT Solutions integrando canais de vendas à indústria. Em uma outra vertente, mas não fora deste seleto grupo, estariam a ManejeBem com seus sistemas de análise de dados de campo focado na realidade de pequenos produtores e a Agrosatélite que faz monitoramentos remotos e oferece sistemas de software SaaS para análise de dados e estudos mais aprofundados das propriedades. Duas das startups estão ligadas à funcionalidade de máquinas no sistema agrícola e são elas a Trace Pack fornecendo dados para tomadas de decisão em tempo real a partir da coleta de dados do maquinário e na mesma linha a IoTag com oferta de soluções na gestão de desempenho do maquinário agrícola.

A que se ter um pouco de cautela em se concluir qualquer coisa com base nos rankings que se apresentam em diferentes fontes. A forma de coleta de dados, a forma de análise, as entrevistas, tudo isso pode criar um viés que descaracteriza fortemente o que de fato é o ecossistema brasileiro de inovação e empreendedorismo no agronegócio. De forma alguma nossa análise invalida o sucesso das soluções digitais, muito pelo contrário, vale a pena ficar de olho em algumas startups que estão dando passos significativos, principalmente na geração de tecnologias disruptivas e na construção de know-how antes longe do domínio público, como tratarei de um caso a seguir.

Quando analiso outros dados que vão além dos rankings, vejo claramente um avanço muito significativo em soluções biológicas, basta acompanhar os investimentos que foram feitos em startups deste segmento no último ano. Também é interessante ver o emergente segmento de nanopartículas aplicadas à agricultura. Eu mesmo tive a oportunidade de estar em contato com pelo menos duas startups nesse setor, sendo uma em franco crescimento e outra saindo do laboratório para testes piloto. Tenho certeza de que esta é uma frente a ser observada com muito carinho pelos investidores.

Se o interesse é o diferencial para soluções digitais, minha aposta seria a SciCrop. Explico as razões para isso. Conforme noticiou o portal Terra no dia 10 de feveiro de 2023, a startup se prepara para lançar o seu primeiro nanossatélite de monitoramento agrícola. A empresa desenvolveu com recursos próprios o know-how para a fabricação dos nanossatélites e já possuem em desenvolvimento de todo o sistema groundstation para a comunicação entre a terra e o satélite. Com isso a empresa ganha competência em uma cadeia completa de operação que vai desde a construção do satélite, dos equipamentos de suporte e acompanhamento, os sistemas de coleta e análise de dados e gera o primeiro sinal de total Independência de uma startup com relação aos sistemas orbitais de coleta de dados. Sem dúvida alguma um grande feito para uma startup nacional. Esse é o primeiro passo para o desenvolvimento de satélites de porte maior e com finalidades específicas para o agronegócio, sendo também a posse do sistema privado para esse tipo de oferta de tecnologia. Não é possível mensurar as oportunidades de negócios que esse serviço de nanossatélites pode oferecer, mas sem dúvida alguma colocará definitivamente o país no mapa das inovações disruptivas do AgTech.

Editado por

Mateus Mondin

Professor Doutor

Departamento de Genética

Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” – ESALQ

Universidade de São Paulo

Editor Chefe da StartAgro