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ConnectFarm: uma startup brasileira na COP 27

A história de que uma startup brasileira fez parte da comitiva do país para participar da COP 27 era algo que precisava ser contado pela StartAGRO. Realizado no Egito, em novembro passado, o evento contou com importantes líderes governamentais, empresas, organismos multilaterais e a ConectFarm, startup gaúcha fundada em 2019.

Rodrigo Dias, CEO da empresa, diz que o convite aconteceu em 2021, mas uma startup que estava no começo e sem caixa, não tinha qualquer condição de custear a viagem. A ConnectFarm é uma empresa de tecnologia para a agricultura e tem no desenvolvimento de algoritmos e indicadores para o produtor o foco do seu trabalho.

“Imagens de satélite, dados climáticos da região e o cruzamento de dados são apenas alguns dos serviços que a gente oferece […]. O principal é o índice por gestão ambiental (IGA), baseado em um algoritmo que interpola atributos do solo, das plantas e do ambiente para estimar o potencial produtivo de cada talhão, para que seja definido qual a melhor estratégia”, destaca Dias.

A companhia, que começou com 15 clientes, atualmente, atende mais de 500 produtores em todo o território nacional, contudo, o objetivo é ir além. Por isso, Dias e os seis sócios estão avaliando o mercado dos Estados Unidos, que segundo ele, guarda algumas semelhanças com o brasileiro.

“Por aqui, o produtor é mais movido pela emoção do que pela razão. Muitas vezes, ele vai pelo produto que está na moda, na onda. No caso do norte-americano, ele analisa o quanto o investimento naquela tecnologia vai me dar de retorno financeiro […] a maior restrição que temos no mercado dos EUA é não sermos norte-americanos. Se você acha que o gaúcho é bairrista, os EUA são muito mais. Mas se traz resultados para o negócio, as coisas andam”.

O StartAGRO conversou com o CEO acerca da participação da ConnectFarm na COP 27. Na entrevista, Dias conta como surgiu o convite para o evento, quais os desafios para abordagem da questão climática e o papel do Brasil, sobretudo o setor de startups para a discussão.

Como surgiu o convite para a COP 27?

Fomos convidados para a COP 26 o ano passado, mas teríamos que assumir o custo total do negócio e uma startup começando não tinha dinheiro em caixa para fazer isso. Para a COP 27, participamos de um processo seletivo pelo Sebrae Sustentabilidade, que junto com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e o Ministério do Meio Ambiente fizeram uma busca por empresas que poderiam trabalhar com viés sustentável e pudesse mostrar para o mundo o que a gente estava fazendo.

E o que a startup tinha para mostrar?

Além dos serviços que a gente oferece, a ConnectFarm tem um trabalho focado na mensuração de carbono no solo. A gente trabalha para entender o ciclo do carbono dentro da propriedade rural e medimos quanto o produtor tem de carbono no solo, para que ele possa desenvolver práticas agrícolas que aumentem esse carbono e no futuro próximo vendê-lo. Temos esse projeto com a Bayer e a Syngenta, de práticas agronômicas que vão ajudar na sustentabilidade e foi isso que chamou a atenção do Sebrae.

Como foi a experiência de participar da COP 27?

Fomos debutantes, afinal, era a primeira vez num evento desses. A COP 27 é um evento político. Os países constroem os seus acordos ambientais, fazem ali seu tema de casa, a Organização das Nações Unidas (ONU) tem as suas diretrizes de sustentabilidade, além da Agenda 2020, que são objetivos que os países devem assumir, entre eles o combate à fome, valorização das comunidades, diminuição da pobreza. É com base nesses pontos que os acordos são construídos. Cada país vai lá e mostra o que de fato está fazendo. A experiência foi vivenciar isso ali, na nossa frente. Foi ver cada governante e líder expondo suas diretrizes e razões. Infelizmente, a gente não pôde opinar muito, já que é mais governamental. É um evento que conta com mais de 45 mil pessoas. Esse intercâmbio de informação é algo muito importante para nós.

Quais janelas de oportunidades você viu no quesito de negócios?

A COP 27 não é um evento de negócios. Ela não tem esse padrão de feira que estamos acostumados. O perfil dela é de troca de informações, já que a maioria das pessoas que estão lá não são empresas, são órgãos governamentais. Temos trabalhado, antes da COP 27, em uma parceria com o Centro Internacional de Agricultura Tropical para construir um projeto de carbono que possa ser validado no futuro. O Centro é ligado à FAO, órgão da ONU para combater a fome, então o nosso objetivo lá foi reforçar essas ligações e conhecer pessoas.

Como você vê o papel do Brasil na COP 27?

A gente vê muitas notícias de que o Brasil ficou fora das discussões ambientais nos últimos anos. Não é bem assim. Obviamente, faltou uma liderança para o país estar presente. O ministro Joaquim Leite, do Meio Ambiente, esteve, mas faltou a figura do Presidente da República e essa ausência criou essa situação. Agora, vemos um movimento diferente em relação ao governo eleito. Nesse sentido, o Brasil assumiu metas bem ousadas em relação ao meio ambiente. Precisamos avançar no sentido da energia, da agricultura e avançar no acesso à água. A grande diferença dessa COP foi que os países sinalizaram uma intenção de fazer a compensação do carbono.

Para os próximos anos, qual o papel das startups na discussão do mercado de carbono?

É fundamental. Como é um mercado que está se estruturando, quanto mais pudermos participar e ajudar a construir esse mercado, mais abertura e opções para empresas como a nossa nós teremos. Esse universo abre muita oportunidade para quem quer fazer a coisa certa. Quando a gente olha para a COP, a gente consegue alinhar as metas e objetivos da startup com as metas de sustentabilidade e ambientais. Esse é o grande interesse em estar próximo disso, porque conseguimos construir desde a base até o nível governamental o nível de negócio que dá certo para todo mundo.

Autor:

César H.S. Rezende
Jornalista Portal DATAGRO
Repórter freelancer Startagro

Editado por:

Mateus Mondin – Editor Chefe da StartAgro
Professor Doutor/Departamento de Genética – ESALQ
Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” – Universidade de São Paulo