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Entrevista Arlindo Moura: Como a Terra Santa enxerga a agricultura digital

Para o CEO do grupo, Arlindo Moura, a busca por inovação é o que vai garantir o sucesso do agronegócio nas próximas décadas

A agricultura digital é um caminho sem volta. Quem diz isso é Arlindo de Azevedo Moura, CEO da Terra Santa Agro, uma das principais companhias do agronegócio no Brasil.

A reportagem foi publicada originalmente na revista Plant Project.

Confira abaixo  alguns trechos ou clique aqui para ler na íntegra na Plant.   

Por Clayton Melo

Arlindo de Azevedo Moura, CEO da Terra Santa Agro, não tem dúvidas: a agricultura digital veio para ficar, e quem não pegar essa trilha está fora do páreo. A razão é muito simples. Pressionado entre o fornecedor de insumos e o preço das commodities, fixado em Bolsa, o produtor não tem para onde correr na hora de administrar os custos nessas duas pontas. O caminho para melhorar os resultados da operação é ter mais eficiência, algo que se consegue com boa governança e tecnologia. “Para ser eficiente, é necessário buscar todos os meios possíveis para reduzir custos. A agricultura digital é um caminho sem volta para conseguir isso”, afirma Moura nesta entrevista à PLANT PROJECT.

O executivo fala com a experiência de quem viveu de perto todas as transformações do agronegócio nas últimas três décadas e lidera uma das maiores empresas de grãos e fibras do Brasil. Atual presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), já foi diretor financeiro para a América do Sul da John Deere e presidente de empresas como Kepler Weber S.A. e SLC Agrícola. Há cinco anos comanda a Terra Santa, grande produtora de soja, milho e algodão, com sete unidades de produção instaladas no Mato Grosso e cerca de 160 mil hectares sob sua gestão: Fazenda Iporanga (Nova Maringá), Guapirama (Diamantino), Mãe Margarida (Santa Rita do Trivelato), Ribeiro do Céu (Nova Mutum), São José (Campo Novo dos Parecis), Terra Santa (Tabapora) e Parecis (Campo Novo dos Parecis).

Há poucos anos, a companhia iniciou uma estratégia de digitalização da operação, com um projeto-piloto em Nova Mutum. O trabalho está a cargo da Solinftec, empresa de agricultura digital com sede em Araçatuba, interior de São Paulo.Entre os pontos centrais da iniciativa está a substituição completa do uso de papel de registros de dados de plantio e colheita. Hoje, essa atividade é toda feita de forma automatizada, com computadores de bordo nas máquinas agrícolas e acesso às informações em tempo real de qualquer lugar. “Os principais benefícios foram as horas de utilização das máquinas, consumo de combustível, que reduziu bastante, e principalmente a forma de contabilização desses custos. Esse processo todo se tornou muito mais preciso agora”, afirma Moura.

Confira a entrevista.

Qual a visão da Terra Santa em relação à agricultura digital e por que a companhia decidiu implantá-la na operação?

O produtor brasileiro, e também no mundo inteiro, fica pressionado entre o fornecedor de insumos e os compradores das commodities. O preço das commodities é fixado por Bolsa. No caso da soja e do milho, é estipulado por Chicago, no caso do algodão, Nova York, e os insumos são adquiridos do exterior. Então, o que sobra para o produtor é administrar esse custo, ganhar dinheiro no meio desses dois itens, do valor dos insumos e do preço que ele consegue em Bolsa pela sua commodity. Para ganhar dinheiro nesse percurso, é necessário ser muito eficiente. E, para ser eficiente, é preciso buscar todos os meios possíveis para reduzir os custos. A agricultura digital é um caminho sem volta para alcançar isso.

Como foi exatamente o início do trabalho de adoção da agricultura digital?

Há cinco anos começamos a trabalhar com agricultura de precisão, que na minha visão foi engolida pela agricultura digital. Já estávamos fazendo algumas coisas nessa linha e, conforme o trabalho evoluiu, vimos que tinha muito campo para avançar. Então, buscamos no mercado um fornecedor que já estivesse desenvolvendo um trabalho com agricultura digital, e assim encontramos uma empresa chamada Solinftec. Fizemos um projeto-piloto, inclusive com riscos para eles, que eventualmente não ganhariam nada caso o trabalho não desse certo. Mas felizmente tudo correu nos conformes e conseguimos benefícios para ambos. Já estamos estendendo esse projeto para mais duas fazendas.

A Terra Santa hoje conta com todos os processos de coleta de dados automatizados. Como isso era feito antes da implantação da agricultura digital?

A forma de controle eram as anotações em papel feitas pelo operador, em campo. Esses dados depois eram colocados num sistema. Não havia um procedimento on-line que nos permitisse verificar onde e como as máquinas estão trabalhando. Hoje, conseguimos observar também a telemetria das máquinas, e isso não só facilita muito nossa atividade como possibilita também o controle da gestão de cada uma das fazendas.

Que tipo de resultados o uso dessa tecnologia já proporcionou?

Os principais benefícios foram as horas de utilização das máquinas, consumo de combustível, que reduziu bastante, e principalmente a forma de contabilização desses custos. Esse processo todo se tornou muito mais preciso agora.

 

Levando em consideração o avanço da tecnologia no campo, como o senhor enxerga o agronegócio brasileiro daqui a alguns anos? 

Minha convicção, como produtor, é de que daqui a dez anos tudo que fazemos hoje estará desatualizado. Essas inovações são muito rápidas. No momento em que uma inovação surge, paralelamente aparecem outras duas ou três, para outros controles e serviços. O produtor que não entrar nisso vai ficar fora do mercado. O produtor brasileiro tem essa vontade de inovar, de reduzir custos. Isso acontece desde sempre, vem desde o plantio direto, área em que o Brasil é um dos países com maior nível de utilização no mundo. Aconteceu também com o transgênico, algo que o produtor viu rapidamente que era vantajoso de usar. E vai acontecer também com a agricultura digital.

Essa nova agricultura exige uma nova mão de obra. Que competências e habilidades o trabalhador do agronegócio precisa adquirir daqui para a frente?

A mão de obra é sempre uma dificuldade dentro de uma fazenda. Dependendo do tamanho dela, são 200, 300 funcionários em locais muitas vezes longe da cidade, com dificuldade de acesso às propriedades. Portanto, quanto menos pessoas a gente conseguir ter nas fazendas, melhor. Acho que a agricultura digital vai possibilitar isso. Vai eliminar algumas atividades burocráticas, antes necessárias em função de uso do papel, mas que hoje fazemos pela internet no escritório, de qualquer lugar do mundo. Isso fará com que o custo administrativo de uma fazenda caia bastante. O papel do funcionário da fazenda é produzir soja, milho, algodão, não é ficar fazendo anotações para depois transformar isso em dados. (continue a ler na Plant Project)