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As máquinas como respostas às críticas sobre a falta de sustentabilidade na produção de alimentos

Vocês não encontrarão duas industrias que possuem um impacto maior no nosso mundo, e em todos nós, do que a da agricultura e a da construção – palavras de John May, CEO da John Deere. Essa é a resposta que o líder da gigante de implementos agrícola deu ao ser questionado sobre o “porque devemos ter um cuidado especial com os agricultores se eles representam menos de 2% da população dos Estados Unidos?” – e muito provavelmente esse número não deve ser diferente ao redor do mundo.

Todo esse discurso acompanhou o anúncio da empresa da introdução de mais autonomia nos seus equipamentos agrícolas. Toda essa movimentação tem como objetivo responder de forma inteligente a uma série de críticas que o setor agrícola vem sofrendo ao redor do mundo.

Entre as maiores críticas que o agronegócio global vem sofrendo está a alegação de falta de sustentabilidade, especialmente para uma população que não para de crescer. Atualmente as expectativas estão ao redor de 10 bilhões de habitantes em 2050, o que representa 1 bilhão a mais de pessoas em comparação 1as estimativas de alguns anos atrás. Toda essa população precisa ser alimentada e isso significa que a produção de alimentos precisa crescer entre 60 e 70% no mesmo período e de preferência utilizando-se da mesma quantidade de área que está sendo utilizada hoje. Se não for assim, as críticas tem endereço certo e vão de encontro a questões de desmatamento e uso de terras com cobertura nativa.

Um dos argumentos da empresa como resposta é o lançamento do ExactShot. Sem dúvida alguma o uso de fertilizantes para produção de alimentos é crítico, mas se olharmos para trás, de fato pouco avançamos em termos de tecnologia de aplicação. Como consequência temos uma demanda extraordinária por fertilizantes e ao mesmo tempo sabemos que a indústria produtora destes insumos tem grande impacto ambiental. Além disso, sabemos que grande parte dos fertilizantes, tão preciosos, são perdidos no ambiente de diferentes formas, como lixiviação, volatilização e fixação na matriz dos solos, tornando os nutrientes indisponíveis para as plantas. A tecnologia do ExactShot é baseada em sensores que identificam onde as plantas estão e fazem a pulverização dos fertilizantes de forma pontual. A John Deere garante que esse nova forma de aplicação de nutrientes pode gerar economias da ordem de 352 milhões de litros de fertilizantes, dados baseados no número apresentado de 93 milhões de galões, embora a forma líquida não seja a mais comum no mercado brasileiro.

A outra novidade da empresa foi a aquisição da empresas de baterias inovadoras Kreisel Electric. A entrada no negócio teve como estratégia o aumento da capacidade de produção da empresa. O investimento faz sentido uma vez que a empresa acaba de lançar o seu primeiro trator autônomo e promete para a construção civil uma série de escavadoras com as baterias Kreisel embarcadas. Essa tecnologia traria como benefícios a redução na emissão de ruídos da máquina e no ambiente de trabalho, nos custos operacionais diários e aumentaria a confiabilidade do equipamento.

Ainda não é possível imaginarmos as máquinas agrícolas e seus implementos como robôs independentes e autossuficientes. Certos de que ainda esse dia irá chegar, devemos ter hoje em mente que as máquinas com seus instrumentos de GPS, aprendizado de máquinas, inteligência artificial, visão computacional, conectividade e computação em nuvem, operacionalizados por softwares e analytics apresentados em tela, são trajes que conferem aos homens superpoderes na execução de tarefas. Considerando apenas o que a John Deere colocou em operação nos últimos anos, teríamos algo ao redor de 500 mil máquinas de alguma forma interconectadas, cobrindo cerca de dois terços do globo terrestre.

Esse cenário demonstra claramente que não estamos mais no campo da ficção científica e que essas máquinas coletoras de informações e capazes de otimizar o sistema de produção de alimentos, tornando-o mais sustentável, são uma realidade e fará cada vez mais, parte do dia a dia dos produtores.

Editado por:

Mateus Mondin

Professor Doutor

Departamento de Genética

Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” – ESALQ

Universidade de São Paulo

Editor Chefe da StartAgro