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África, o continente do AgFoodTech – Parte 1

Como a mais promissora fronteira da produção agrícola mundial e está se reinventando com as startups agrícolas

Quando pensamos em África, a primeira imagem que surge em nossos pensamentos é o da pobreza, da falta de condições básicas de saúde e alimentação. De fato na África Subsaariana há uma condição crítica de insegurança alimentar. A maioria dos países dessa região são importadores de alimentos, com um mercado que passa dos 40 bilhões de dólares ano. Ao mesmo tempo que esses mesmo países são exportadores de matérias primas de altíssimo valor  de marcado como as gemas preciosas e o petróleo. Esse contraste gera um cenário totalmente adverso e de crises intermináveis.

No continente africano a agricultura ocupa menos de 2% da área do continente e as ferramentas de trabalho continuam sendo manuais, principalmente pela escolha de cultivos que demandam grande força tarefa braçal para tarefas que ainda não permitem mecanização, por exemplo, como a colheita do cacau, da mandioca e da banana.

Com tão pouca ocupação das terras com potencial agrícola e tão baixa tecnificação dos cultivos, a África é sem dúvida a maior fronteira para a produção de alimentos no mundo hoje. Entretanto, não tome essa introdução como uma verdade absoluta e imutável. A história africana é pouco conhecida e estudada por nós, mas ela é marcada pela resiliência e uma trajetória de inovação, como destaca Saron Berhane, um bioengenheiro e empreendedor Australiano que vive no continente.

Aquela visão de uma África pobre e atrasada é desfeita quando se chega nos grandes centros tecnológicos de Lagos e Nairóbi. Na visão de Berhane, tudo é possível na África.

Os recentes relatórios do AgFunder sobre empreendedorismo, investimentos e inovação em AgFoodTech apontam uma retração global no aporte de recursos no mundo todo, exceto na África. O continente foi a única região do mundo em 2022 onde os investimentos cresceram. Ao todo foram mais de 640 milhões de dólares em investimentos para melhorar a produção de alimentos no continente, desde transporte até a cadeia de suprimentos. Esse montante de investimentos é quase 22% maior do que aqueles recebidos no ano de 2021.

E se engana aqueles que pensam que a África não tem um plano estratégico. O continente tem como plano se tornar um mercado de mais de 1 trilhão de dólares na produção de alimentos até 2030. Portanto, esses significativos investimentos fazem todo sentido, principalmente considerando o potencial que a região possui. O que faz brilhar os olhos dos interessados sobre o continente africano, é que as cinco maiores operações de investimentos foram em tecnologias voltadas para o AgriFoodTech.

Para que conheçamos melhor esse mundo africano de tecnologia, desconhecido para a grande maioria das pessoas, apresentaremos a seguir uma lista das startups de destaque no região, com ênfase na mecanização, robotização e precisão dos cultivos.

Hello TractorApós a sua participação no programam John Deere’s Startup Collaborator Program, essa startup da Nigéria recebeu um aporte da própria John Deere para alavancar o seu crescimento. A solução tecnológica apresentada trata-se de um sistema de marketplace para gestão e oferta de maquinários, facilitando o acesso a mecanização por parte dos pequenos agricultores.

Tolbiessa startup do Senegal oferece uma plataforma de gestão agrícola e tomada de decisões utilizando-se de monitoramento remoto via satélite e o uso de sensores a campo. Os serviços vão desde análise e orientação para aplicação de fertilizantes até alertas em tempo real para ataque de pragas e doenças. O mais interessante é o serviço chamado Tolbi Woma, onde o produtor local recebe diariamente uma ligação com alguém falando em seu idioma local e lhe passando orientações sobre as melhores práticas agrícolas.

SupPlantembora seja uma startup Israelense, a empresa tem uma presença marcante na África do Sul. O foco tecnológico é a economia de água e sistemas de irrigação de alta eficiência. A empresa se especializou em vários cultivos específicos dos países africanos, principalmente frutas com alto valor de mercado.

Apollo Agriculturea startup do Quênia oferece soluções tecnológicas para que pequenos produtores rurais possam aumentar suas produções. A empresa através de sensoriamento remoto e machine learning oferece customização para plantios, irrigação, uso de fertilizantes e redução dos custos de mão de obra. Recentemente a empresa recebeu investimento de um fundo VC e passou operar e 14 países.

Aeroboticsessa startup da África do Sul tem foco em cultivos de plantas perenes fazendo um monitoramento planta a planta de alta resolução através do uso de análises de imagens multiespectral e termal. O monitoramento garante um mapeamento das plantas com maiores taxas de transpiração e o monitoramento da ocorrência de pragas e doenças.

Agrix Techdo Camarões essa startup de tecnologia agrícola possui pacotes completos de soluções para pequenos agricultores através de um aplicativo de celular. Os serviços vão de financiamentos, a insumos agrícolas, orientação, oferta de seguros e acesso ao mercado para a comercialização da produção. Através de uma sistema de monitoramento por satélite e machine learning é possível tomar decisões assertivas sobre oferta de créditos, redução de custos e escalar a produção.

Para aqueles que se interessaram pela produção agrícola tecnificada no mundo africano é bom considerar alguns pontos fundamentais para alcançar o sucesso. Por ser um imenso continente multifacetado, é crítico conhecer e considerar fortemente a cultura local. Como apresentado na lista acima de startups, fica claro que a estrutura é fundamentada em pequenas propriedades, onde se concentra mais de 90% de toda a produção de alimentos do continente. A mecanização, o uso de robôs, de sistemas de sensoriamento remoto, tem alto potencial para melhorar as condições de cultivos e a qualidade da produção, mas é importante lembrar que o continente é bastante heterogêneo nas condições climáticas. Segundo Berhane “startups bem-sucedidas devem considerar fatores como tamanhos de parcelas menores, fluxo de caixa da fazenda, terrenos variáveis, suporte de aplicação multipropósito, opções de financiamento, culturas especializadas e sua colheita assíncrona, entre muitas outras coisas“.

Editado por

Mateus Mondin

Professor Doutor

Departamento de Genética

Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” – ESALQ

Universidade de São Paulo

Editor Chefe da StartAgro