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Conheça a DuAgro, agfintech que oferece ao produtor acesso facilitado ao crédito

Parceria da securitizadora Vert com a XP investimentos tem um projeto de longo prazo para o setor

Em abril, publicamos na revista Plant Project uma reportagem sobre como a tecnologia e o surgimento de startups focadas em oferecer soluções financeiras ao produtor poderiam revolucionar o crédito agrícola. É nesse cenário de inovação que surge uma nova empresa, a DuAgro, cujo objetivo é justamente dar uma outra alternativa ao produtor.

Parceria da securitizadora Vert com a XP investimentos, a DuAgro foi lançada na semana passada e chega ao mercado propondo uma aproximação entre o mercado financeiro e o produtor a partir do relacionamento que o agricultor já tem com sua revenda ou cooperativa. No momento em que precisa comprar insumos, ele poderá optar por uma linha de crédito da DuAgro, sem necessidade de burocracia.

Para conhecer um pouco mais sobre a empresa e como a solução vai funcionar no dia a dia, conversamos com Fernanda Mello, CEO da DuAgro.

Confira a entrevista:

Como surgiu a DuAgro?
Começamos a financiar o agro em 2010 através de securitização. Era um mercado novo e ninguém tinha feito ainda, apesar da lei já existir. O mercado de capitais não chegava no agro. Fizemos a primeira emissão pública de CRA do setor [na época, pela Octante]. Eu e minhas sócias, a Victória de Sá e a Martha de Sá, saímos para abrir nossa própria securitizadora, a Vert, em 2016, que é hoje a maior do Brasil no agro. Sempre tivemos uma dedicação muito grande em chegar na ponta, que é o produtor. Já estávamos na cadeia financiando o produtor, mas indiretamente. Tínhamos dificuldades operacionais em chegar neles, especialmente nos pequenos e médios. Em 2017, começamos a fazer securitização para fintechs, e foi aí que surgiu a ideia. Fazíamos operações de crédito pessoal e percebemos que era possível trabalhar com crédito agro. Juntamos o que já fazíamos, mas agora chegaríamos na ponta de maneira rápida e eficiente. Porque o agro é muito tecnológico no campo, mas em termos financeiros, não. No ano passado, começamos uma parceria com a XP para títulos do agronegócio para compra de insumos. A parceria foi um sucesso e decidimos abrir esse nosso projeto pra eles, e assim a XP virou nossa sócia. Abrimos a DuAgro como uma empresa independente da Vert.

A solução propõe um modelo facilitado de crédito a partir do relacionamento dos produtores com as revendas e cooperativas. Como ela funcionará na prática?
Fazer isso é um grande desafio, porque são milhares de produtores e a informação de crédito é muito ruim. No caso das fintechs, elas dão um rating. No caso do agro, não é tão simples. Estamos na cadeia há muito tempo e vemos que a revenda, embora não seja um banco, acaba tendo esse papel de financiar o agro. Então vamos fazer o que já fazíamos. Sabemos como performa o produtor dentro de uma revenda, e como a revenda performa dentro de uma indústria. A solução vai oferecer uma linha de crédito, disponível no momento em que ele precisar fazer uma compra de insumos. Vamos entrar como algo bastante natural na cadeia. Ao mesmo tempo, faremos a ponte com o mercado financeiro, oferecendo uma nova camada de análise para o investidor. É mais segurança. E para o produtor continua tudo igual.

O foco parece ser o pequeno e o médio produtor. A longo prazo, esse agricultor terá uma condição melhor, um crédito mais facilitado, por conta da solução?
Focamos no pequeno e no médio porque o grande produtor tem acesso até ao mercado financeiro. Temos como objetivo melhorar os custos para o produtor, mas é um processo. Nesse momento, resolvemos a burocracia e o acesso. É um projeto de longo prazo, e vamos conseguir ser eficientes em custo, mas precisamos aumentar o volume de crédito. Porque uma condição melhor demanda conhecimento. Por exemplo, temos investidores interessados em títulos verdes que aceitam remunerações menores. Para o produtor, se ele se enquadrar nos requerimentos, pode optar por esse crédito diferenciado. Outra forma de garantir isso é o histórico. Queremos usar a tecnologia, inteligência artificial, machine learning, para deixar essa análise mais precisa e, consequentemente, melhorar a taxa.

Como você vê a chegada de tantas agfintechs e de que maneira essas startups podem mudar a situação do crédito rural?
É um caminho sem volta. Porque não tem outra forma de atender a necessidade a não ser essa. Existem vários modelos de agrifintechs. Algumas compram recebíveis da revenda, outras fazem barter. Todas têm o mesmo objetivo de oferecer novas fontes para o agricultor. São processos diferentes do que tem hoje, que envolve um financiamento no papel, com um cartório demorando um mês para emitir. O Covid, de certa forma, ajudou. Ajudou o produtor, que antes tinha uma certa resistência ao que era novo quando o assunto é financiamento. Antes da pandemia, fizemos muita pesquisa e entendemos que a melhor maneira de chegar ao produtor era pelo celular, por meio do WhatsApp. Focamos no acesso via smartphone. Agora, isso é ainda mais natural para ele. O agro também foi um dos setores mais resilientes, no Brasil e no mundo. Porque comida todo mundo vai precisar sempre. E isso despertou o interesse de investidores estrangeiros no agro do Brasil. Esse é um campo novo que vamos trabalhar. Queremos investidores de todos os bolsos, para atender os diferentes produtores.

Quais são as culturas que já podem buscar a solução?
Nesse primeiro momento, soja, milho, algodão e café. É o começo. Nosso projeto é incluir todas as culturas. Hortifruti, cana de açúcar, pecuária, tudo que for agro queremos atender. Está no nosso roadmap, e queremos atuar em todo o Brasil. Quanto mais pulverizado, melhor.

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