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O que a agricultura digital tem a ver com a 4ª Revolução Industrial

Por que o Brasil deveria, como projeto de nação, abraçar a agricultura digital? 

Por Clayton Melo

No espaço de aproximadamente um ano, a revolução tecnológica no campo deixou de ser assunto setorial para entrar de vez no radar de todo o mercado. Hoje, o AgTech, o setor de tecnologia para o agronegócio, está na mira das grandes empresas internacionais de TI e do agro, passando por executivos de venture capital, bancos, empreendedores, pesquisadores, mídia e, claro, um universo cada vez maior de produtores rurais, os principais beneficiários da agricultura digital.

Isso tem propiciado uma espiral benéfica para todo o ecossistema, com o surgimento de várias startups AgTech e, consequentemente, novas oportunidades de negócios. Mas o que estamos vendo no geral ainda é uma discussão voltada para o mercado interno, com novíssimos projetos de jovens empreendedores que se propõem a solucionar problemas dos produtores locais.

Isso é ótimo e necessário.  É importante, no entanto, avançar e colocar em foco uma questão fundamental: por que o Brasil deveria, como projeto de nação, abraçar a agricultura digital? O que está envolvido de fato nesse tema? Essa discussão passa pelo entendimento de que está em curso uma nova revolução tecnológica – a Quarta Revolução Industrial.

Mas o que a agricultura digital tem a ver com a 4ª Revolução Industrial?

Tudo.

Vamos começar entendendo o que significa 4ª revolução industrial. Uso como base aqui a visão de Klaus Schwab, autor do livro Quarta Revolução Industrial, publicado em 2015 e bem abordado nesta reportagem da BBC Brasil.

“Estamos a bordo de uma revolução tecnológica que transformará fundamentalmente a forma como vivemos, trabalhamos e nos relacionamos. Em sua escala, alcance e complexidade, a transformação será diferente de qualquer coisa que o ser humano tenha experimentado antes”, diz Schwab, que é diretor-executivo do Fórum Econômico Mundial. Essa revolução afetará tudo, do mundo do trabalho aos modos de produção. E o campo.

“A 4ª revolução industrial não é definida por um conjunto de tecnologias emergentes em si mesmas, mas a transição em direção a novos sistemas que foram construídos sobre a infraestrutura da revolução digital (anterior)”, afirma.

A revolução 4.0 é chamada assim porque surge depois de outros três processos históricos.

Automatização radical

A quarta etapa está relacionada à automatização completa das fábricas, com a Internet das Coisas e a Inteligência Artificial possibilitando que máquinas conversam entre si, tomem decisões e controlem a si mesmas. Há a necessidade de discutirmos seriamente as questões  éticas (vide a genética, por exemplo) e sociais envolvidas no tema, como a necessidade de preparar a mão de obra ( a população)  para essa nova fase sob o risco de desemprego em massa em escala global. Mas esse assunto é tão importante que merece um post específico.

O que gostaria de destacar aqui é que o Brasil tem, pela primeira vez, a chance de ser protagonista, e não ser um figurante, numa revolução tecnológica. Perdemos o bonde em todas as outras. Falando apenas daquelas que se referem mais diretamente à tecnologia da informação, fomos espectadores e consumidores nas fases da informática, PCs, softwares, tecnologia móvel etc etc. No caso do agro, tivemos a oportunidade histórica com o etanol, que também deixamos passar…

Agora estamos diante de outra, e no mercado (agro) em que somos uma potência e temos histórico de inovação: a agricultura digital.

E o Brasil?  

A agricultura digital é chance do Brasil de participar como gente grande na cena global do capitalismo do século XXI. Temos capital humano, pesquisa, sólido ecossistema de negócios e mercado consumidor gigantesco.

No agro, os efeitos da 4ª  revolução industrial se mostram sob várias tendências que aos poucos começam a se tornar realidade.

Como já abordamos nesta reportagem, a agricultura, tal como a conhecemos hoje, está entrando em uma etapa e vai ser transformada radicalmente. Nessa nova fase, algoritmos, Inteligência Artifical e Internet das Coisas (IoT) estão se encontrando com os motores do campo.

Ocupando um espaço nas máquinas agrícolas – a cabine – que antes era exclusivo para um operador de carne e osso, essas novas tecnologias vão elevar a produtividade e a eficiência nas lavouras a níveis espetaculares.

Entre as estrelas da próxima revolução agrícola estão também as fazendas inteligentes, equipadas com sensores por todos os lados e máquinas dotadas de inteligência artificial.

Com a agricultura digital, os algoritmos e o Big Data entram no mundo rural para elevar ao máximo de produtividade em cada hectare e saco de semente cultivado pelo agricultor, ao mesmo tempo em que contribuirá para reduzir a pressão exercida sobre os recursos naturais e o meio ambiente.

Há muito a ser feito para que o Brasil  consolide a condição de protagonista nessa nova onda. O mercado vem fazendo a sua parte, com a formação de um ecossistema AgTech que aos poucos se reforça, com a chegada de investidores mais parrudos, novos empreendedores e a academia. Falta ver no horizonte, no entanto, sinais de que o tema possa ser tornar um projeto de nação, o que é algo mais profundo e que depende outros agentes.

O caminho é longo e desafiador. Vamos em frente.